Mães que viraram amigas na UTI Neonatal celebram juntas 1 ano de vida dos filhos
Os meses de maio e junho de 2018 chegam para reviver o que 5 mães enfrentaram em 2017. Guardadas as particulares de cada caso, uns mais simples, outros gravíssimos, elas dividiram o mesmo sentimento durante o período em que seus filhos ficaram internados na UTI Neonatal da Maternidade Cândido Mariano: o medo de voltarem para casa sem os pequenos guerreiros nos braços.
Num ensaio fotografado por Josi Grenge, os bebês comemoraram um aninho coletivo no fim de semana, fazendo farra e se lambuzando. Mal sabem o tanto que lutaram para estar ali. ”Hoje nem parece que eles nasceram tão pequenos e frágeis. Espero que essa amizade deles, assim como a nossa, dure muitos anos e a gente possa compartilhar várias coisas, até a velhice”, diz a mãe Maricelle Sanches dos Santos.
Marcia Rezende, Adriana Miranda Kawano, Lauanne Araújo, Roberta Machado Mendes Manolio e Maricelle não se conheciam em 2017, mas choraram juntas, se desesperaram e comemoraram a alta umas das outras, mesmo que isso significasse despedida.
Lauanne foi a primeira a chegar, a mãe da Aurora, que nasceu no dia 26 de maio, com 33 semanas de gestação, 2,20kg e 43 cm. Sempre que outra aparecia com o mesmo problema, a recepção era com fé. ”Reze, ore bastante, que tudo vai ficar bem. Tente passar energias boas para o seu bebê”, repetia Lauanne, o mesmo “mantra” ensinado a ela pela médica da UTI quando Aurora teve uma uma parada cardiorespiratória e uma convulsão, crise que levou a menina à internação.
Pouco a pouco, chegaram Márcia e Luisa, Roberta e o filho Eduardo, Adriana e o pequeno Murilo, Maricelle e a filha Pietra.
Todas se emocionam ao lembrar do que passaram lá dentro. ”Você só tem a sensação de olhar, de abraçar o vidro, de ir embora pra casa sem poder carregar seu maior bem, a sensação de vazio é muito difícil”, diz Adriana, uma das mais emotivas, talvez porque Murilo seja o único do grupinho que ainda precise passar por uma cirurgia do coração.
Poder contar com as outras mulheres ali foi ter sempre um olhar confiável sob o seu filho, mesmo quando era preciso voltar para casa, para descansar. ”A gente ficava de olho no filho da outra também, para poder ajudar, avisar para mãezinha tudo que tinha acontecido”, completa ela.
O choro de uma, seja de alegria ou tristeza, era o mesmo da outra. E nessas elas notaram que contavam a vida dos filhos por horas, e não por dias, como se vê por aí. ”Ali dentro era 24 horas, 36, 48 horas, ali dentro era o presente que importava e isso eu vou levar pra sempre”, diz Roberta.
Adriana lembra de um dos dias mais marcantes, quando viu Pietra ir para o quartinho, a primeira a ter alta da UTI. ”A gente se compadecia uma com a outra e cada vitória era a nossa vitoria. Me lembro até hoje quando a Pietra foi pro quarto. Naquele momento, parecia que era a minha filha que estava indo, de tanta felicidade que eu senti”.
Os momentos no banco de leite eram válvula de escape para umas, mas o período mais tenso para outras, que precisavam que o bebê se alimentasse bem, para ganhar peso, e poder ir embora pra casa. ”E quando o estoque de leite zerava era um baque para gente, porque ficávamos naquela de que se não conseguíssemos tirar o nosso leite, teríamos que dar industrializado e ali tínhamos total noção de quão importante é a amamentação”, conta Márcia.
As cinco mulheres reforçam a outras mães de recém-nascidos que se esforcem para doar, pois o mínimo para uns é o que vai garantir a vida de um bebê em estado grave na UTI. ”É um ponto muito importante de ser dito porque só quem passa por isso sabe”, comenta Lauane.
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