Em 1 ano, Victtoria viu o namorado morrer e descobriu o câncer, mas tudo passou
Uma das doenças a causar mais medo hoje, o câncer, foi descoberta por Victtoria Arruda no auge da juventude, aos 20 anos. Há dois, ela consegue olhar para aquele delicado momento com força. Vê o que passou como um “milagre” e descobriu o sentido de agradecer simplesmente por estar viva.
Quem a vê sorrindo agora não imagina desespero diante do Linfoma de Hodgkin, no estágio 4. O tumor atingiu pescoço, tórax, axilas, baço e medula. “Uma médica até disse que eu parecia uma árvore de Natal de tantos tumores espalhados pelo corpo”, lembra ela.
O catéter, que continua no paciente em caso de reincidência, foi retirado no dia 28 de março deste ano, encerrando oficialmente o ciclo mais desafiador da vida. No seu Facebook, ela comemorou em um post: “Depois de 2 anos, vamos tirar o catéter, botãozinho, acesso, port a cath, mini alien… como quiserem chamar, haha”.
O bom humor, característica essencial de Victtoria, não a abandonou em momento nenhum. Talvez por isso, ela escolheu olhar para o câncer, de grau extremamente violento, com a fé de que estava passando por “mais uma fase”. “Nunca achei que isso seria meu fim. Sempre acreditei que era uma fase que eu precisava passar! E que eu ia passar, era só eu querer”.
Para Victtoria, a teoria de que o câncer é uma doença emocional faz todo sentido. Ela viveu o primeiro luto da sua vida no 1º semestre de 2014, quando perdeu o primeiro namorado para um aneurisma cerebral. No 2º semestre, vieram os sintomas do câncer.
“Eu sempre tive medo da morte ou qualquer coisa ligada ao tema. Então, foi bem difícil, até brincava falando ‘ele sabia que eu tinha medo e foi lá e morreu’. Foi traumático na época, teve aneurisma cerebral e tipo, da noite pro dia, ele morreu em casa numa segunda e só descobrimos na quarta”, completa.
Para completar, ela não se alimentava direito e estava bem desiludida com a vida, vivendo no piloto automático. “Já estava com muitas dores. Acordava, sentia dor, tomava remédio, sentia dor, tomava remédio antes de dormir, era assim, e nem fazia ideia do que era mesmo já tendo todos os sintomas”.
O primeiro desses sintomas era dor do lado direito do peito e nas costas, na mesma direção. O tipo de câncer que teve é sensível ao álcool, então quando Victtoria bebia sentia a dor mais intensa. No começo de 2015, o segundo sintoma apareceu: uma inflamação no tórax. “Fui ao médico e falaram que podia ser algo na coluna e a dor da bebida algo ligado à refluxo”.
Da noite pro dia, apareceu um nódulo no pescoço, que a princípio parecia muscular. “Fiz fisioterapia e a dor só aumentava, sentia dor todos os dias no tórax”. Uma febre constante nas áreas do corpo que estavam afetadas com o tumor começaram e só foi graças a uma amiga da família que o câncer foi descoberto.
“Ela apareceu lá em casa e perguntou porque eu estava daquele jeito. Viu o nódulo e percebeu que ele era enraizado, ou seja, diferente de um muscular, maleável. No dia seguinte ela já foi comigo no médico para a gente ver o que era, porque não tinha gostado do que viu”. Isso já era fim de julho e uma tomografia com biopsia desse nódulo confirmou no começo de agosto veio o resultado.
O tratamento intensivo começou exatamente no 1º de setembro de 2015 e terminou no ano seguinte, no dia 24 de fevereiro. Uma quimioterapia fortíssima, “a mais forte que a farmacêutica havia manipulado até então”, foi ministrada em Victtoria, além de um remédio via oral todo começo de cada ciclo. “Fiquei chocada com isso e me senti até meio mulher maravilha”, comenta ela sobre a intensidade dos medicamentos.
O aniversário de 21 anos foi comemorado na quimio, com direito a festa surpresa e tudo o mais. E como dizem, a doença realmente une. Os pais, separados, acabaram se aproximando para dar atenção total à filha mais nova. “Minha mãe lidou de forma tranquila, até me surpreendi, ela diz que se agarrou na minha força e em Deus! Meu pai se aproximou muito, ia em todas as sessões comigo”.
O irmão raspou a cabeça com ela. “Ele chegou no hospital de repente, sem o cabelão comprido dele, mantido toda vida. Foi demais foi. Ele foi um paizão!”. A careca foi assumida com orgulho. Os lenços não eram acessórios necessários para Victtoria, seu sorriso lhe bastava.
As feridas se fecharam, o câncer foi curado e uma nova vida começou quando ela abriu o envelope confirmando o controle da doença. “Eu e minha famílias caímos no choro. Foi Deus o tempo todo. Ele me deu um fardo tão grande mas sabia que eu aguentaria”. O destino da comemoração foi um rodízio de sushi, já que antes ela não podia comer nada cru.
Hoje ela se enxerga muito melhor do que antes de ficar doente. “Dou valor a coisas diferentes hoje, enquanto que deixei de dar valor a outras fúteis”.
Um novo relacionamento surgiu para encher o coração de Victtoria. E o ciclo de dores, carecas e hospitais se encerrou oficialmente com a retirada do catéter.
Fonte:Campo Grande News.
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