CRM cassa registro de médico responsável por 100 cirurgias plásticas malsucedidas
Após oito anos, o Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul (CRM-MS), cassou o agora ex-médico, Alexsandro de Souza, responsável por pelo menos 100 cirurgias plásticas malsucedidas em pacientes de cidades do sul do Estado.
Contra ele há inclusive a acusação da morte de Cristiane Medina Dantas, 23 anos, em Fátima do Sul no ano de 2008, depois de uma abdominoplastia (cirurgia estética realizada para remover gordura e pele em excesso do abdômen).
O caso veio à tona em agosto de 2010, após Souza continuar trabalhando e ignorar decisão do CRM que o suspendeu de exercer a medicina por seis meses. Devido a desobediência, o Conselho tornou público na época, a interdição cautelar do então profissional, que tinha sido aplicada em maio daquele ano, para mostrar à sociedade que o profissional estava suspenso das atividades e não deveria atender nenhum paciente no prazo determinado.
Souza tinha registro no CRM em cirurgia-geral, mas atuava como cirurgião plástico há pelo menos 4 anos antes de ser investigado, de acordo com denúncias de pacientes. Ele teve uma clínica de estética em Fátima do Sul, fechada após a morte de Cristiane. Há relatos de que ele ainda atuou como cirurgião plástico em Naviraí, Glória de Dourados e Juti, onde inclusive foi vice-prefeito eleito na chapa de Neri Compagnoni (PDT), em 2004.
No total, o ex-médico foi punido em quatro investigações que tramitavam no CRM, publicadas no Diário Oficial do Estado (DOE) na sexta-feira (23). Em todos ele foi julgado pelo Pleno do Tribunal Superior de Ética Médica do Conselho Federal de Medicina (CFM) e recebeu a mesma pena, de cassação do exercício profissional. Em nenhum dos casos é possível saber o teor dos processos, que tramitaram em segredo.
Em março de 2013, Souza foi casado pelo CFM pela segunda vez. Isso porque em 2012 ele já havia sido punido, mas por conta de uma liminar estava exercendo a medicina. Com a decisão de cinco anos atrás ele já não podia mais atuar como médico, situação confirmada novamente agora.
A reportagem tentou entrar em contato com o profissional cassado em três números disponíveis na internet como sendo do consultório dele em Fátima do Sul, porém no local a informação é de que funciona um escrtiório de contabilidade. O CRM não comentou a decisão.
VÍTIMAS
Na Associação de Vítimas de Erros Médicos de Mato Grosso do Sul, existem denúncias de sete pessoas contra Alexsandro de Souza – destas três mulheres são de Naviraí e duas são de Fátima do Sul. Porém desde a época das denúncias, o presidente da entidade Valdemar Moraes de Souza já tinha informado que o número de mulheres mutiladas pelo médico passa de 100.
“Fui às cidades onde tivemos denúncias e também percorri a região sul do Estado. Seguramente esse número passa de 100 mulheres. São muitas as denúncias, a maior parte delas é de cirurgias plásticas na região do abdômen (lipoaspiração e abdominoplastia) e dos seios (redução)”, justificando o pequeno número de denúncias formais, por conta das pacientes não quererem se expor.
No entanto, depois da morte de Cristiane Medina Dantas, alguns casos começaram a aparecer. A jovem que estava prestes a concluir a faculdade de Educação Física, queria perder a gordura localizada na região abdominal depois de ter realizado um regime – passou de 112 quilos para 96. Ela foi operada, liberada no dia seguinte, mas passou mal uma semana depois.
“Procuramos o doutor Alex, ele disse que não tinha equipamentos para atender emergência e que iria transferí-la para Dourados, mas nem deu tempo pois ela morreu na clínica mesmo”, relatou a irmã da vítima, Letícia Medina.
Outro caso é de M.A.G., que também foi submetida a uma abdominoplastia com o médico em Naviraí, que denunciou o erro na Associação de Vítimas de Erros Médicos. “Minha barriga está cheia de cicatrizes e um dos pontos até hoje inflama. Outro problema é o meu umbigo que praticamente não existe mais, ficou fechado depois da cirurgia”, declarou.
A paciente diz que os resultados afetaram a estética e também sua saúde. “Ele esticou tanto a minha pele em determinados lugares que até hoje sinto dores, parece que a pele falta”.
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