“Acampamento” na rodovia tem histórias de vida dedicada às estradas
União é o que mais se percebe em um dos principais pontos de concentração dos caminhoneiros, no posto Caravagio, em Campo Grande. Há forte unidade pela causa “raiz” do protesto – contra a alta dos combustíveis – mas muito mais para que homens, mulheres, idosos e crianças tenham um mínimo de conforto nesses dias em que estão fora de casa.
São pessoas de todos os cantos do País. De Presidente Prudente (SP), por exemplo, veio uma família inteira. Caminhoneiro de 42 anos, a esposa de 32 anos e o filho, de 4, estão estacionados no local desde domingo (20). Eles pediram não não serem identificados.
“Acompanho meu marido em quase todas as viagens, e sempre que posso levo meus filhos. É um trabalho muito importante; caminhoneiro é que leva comida aos mercados, que movimenta a vida. Trabalha muito e não recebe retorno”, dispara a esposa, acadêmica de Direito.
“Estamos acostumados em acampar, mas dessa vez está sendo imenso o apoio de todos, as doações, a solidariedade. Há muita união. Tem que haver mudanças”, destaca. “Trouxeram danone”, complementou o menino.
Eles conversavam com uma idosa que, dada a empatia entre todos, parecia ser da família, mas haviam acabado de se conhecer.
“Aqui é assim. Todo mundo se ajuda, se cuida. Somos uma grande família”, define Valdelice Pires de Oliveira, 68 anos, há seis dias no local.
Viúva, trabalhava na “roça” desde criança, quando conheceu o atual companheiro, e trocou a enxada pelas estradas.
“São 14 anos na boleia de um caminhão. Viajo de norte a sul. Daqui iremos para o Sul e acho que depois para o Pará”, prevê.
Os protestos tiveram início na segunda-feira (21), mas no domingo os caminhões já começaram a ser estacionados em postos de combustíveis do estado.
São mais de 50 pontos de interdições, que continuam, mesmo com a decisão da juíza Janete Lima Miguel, da 2ª Vara Federal de Campo Grande, que acatou o pedido da AGU (Advocacia-Geral da União) com objetivo de evitar que os protestos impeçam a passagem de veículos nas rodovias federais do Estado.
Ela conta que chega a ficar um ou dois meses nas estradas. A casa? Fica trancada, “sob a proteção de Maria e do Divino Pai Eterno. “Apoio o protesto porque está muito ruim para todos”, resume.
Também viajam sempre juntos Angelina Oliveira, 45, e o marido, Ademar Mariano, 55. Eles são de Campo Grande mesmo, mas estão no Caravagiodesde o dia 23, porque o caminhão está carregado com mantimentos.
“Carrego aqui e levo a carga para o interior do estado. Não vou sair para não deixar a carreta sozinha. Mas também dou força ao movimento. Pagar R$ 980 para nem encher tanque, não dá”, explica ele.
“Eu decidi me jogar nessa “aventura” com ele, de ficar aqui até o final. Pagamos R$ 3 pelo banho, com limite máximo de cinco minutos. Mas dá tempo, e o pessoal todo é gente boa”, comenta Angelina.
Fonte: Campo Grande News.
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