Em sala de madeira, professora cria projeto de alfabetização no Jardim Colúmbia
Maria de Fátima Barbosa, 52 anos, tem sensibilidade e coração para perceber as dificuldades de quem está a sua volta. Professora, observou que para os alunos da EscolaMunicipal Irmã Edith Coelho Neto a leitura e a ortografia eram limitações importantes. Assim, surgiu o Projeto Harmonia e Fruto, projeto de alfabetização de crianças, jovens e adultos no Jardim Colúmbia, em Campo Grande.
Ela também não teve uma infância fácil. Desde os 14 anos ajudava a mãe nos serviços domésticos em casas de famílias. Naquela época, não tinha opção, ou ajudava ou passava necessidades. “Minha mãe e eu trabalhávamos para comer e morar, e não tinha para onde fugir”, lembra.
Tudo que passou não foi motivo para desistir. Fátima usou as dificuldades com ferramenta de inspiração para realizar o sonho de ser professora. Conseguiu se formar no antigo magistério e de lá para cá, o pensamento é de que sua missão era a de facilitar a vida de pessoas que segundo ela, às vezes precisam apenas de um empurrão.
“Sempre tive em mente que para algumas pessoas, uma ajuda simples como ensinar a escrever já é o bastante para que possam alcançar o objetivo de suas vidas, coisa simples, mas que poucos têm coragem e força de vontade para fazer”, alerta.
Quando ainda lecionava na escola pública do bairro, percebeu a necessidade de acompanhar alguns alunos com mais atenção, e por conta própria iniciou atendimento volante em algumas residências no Jardim Colúmbia. Na mesma região, ao acompanhar projeto de horta comunitária, viu que os alunos precisavam fazer a contagem dos produtos, mas as marcações eram feitas com pauzinhos, porque não sabiam escrever.
“Quando vi aquilo, logo me veio à mente, que naquele caso era necessário um acompanhamento mais severo, foi quando comecei o projeto me lembro, que essa situação aconteceu no ano de 1998 e já em 1999 começaram as turmas”, explica.
O Projeto Harmonia e Fruto sempre foi mantido de doações e naquela época tudo era mais difícil, por se tratar de pessoas pobres e que não tinham apoio e muito menos incentivo. Fátima conta que conseguiu acompanhar os alunos com muita garra. “No início lecionava debaixo das árvores em banquinhos de madeira e sem mesa, os alunos, crianças, jovens e adultos, faziam as atividades no colo sem apoio”, relata.
Seis anos depois, já eram cerca de 95 pessoas sendo atendidas, agora em uma sala feita de madeira. Os alunos tinham onde se abrigar do sol e chuva, local simples, mas, seguro. “Foi nesta sala de madeira e em cadeiras que mantemos até hoje onde os alunos faziam as atividades que eu passava”, relembra.
No local, sem estrutura mínima, a vontade das pessoas de apreender sempre foi à motivação para que Fátima continuasse desenvolvendo seu trabalho. “Eu aposto na educação, porque eu sou exemplo disso. Filha de lavadeira que se tornou professora, mesmo com todas as limitações financeiras, seguiu em frente e venci essas crianças que hoje nem imaginam minha luta, servem de inspiração para que eu siga em frente e não desanime”, diz.
Segundo ela, satisfação é o que define seu sentimento, agora que tem condições físicas de atender a comunidade, oferece um espaço a baixo custo para quem precise. “Sinto-me convidada a ser cooperadora do bem, pra cumprir uma missão que muitos que tem condições não fazem questão”, assegura.
Hoje com uma estrutura melhor as atividades se estenderam e acontecem de segunda a sábado. Na segunda, quarta e sexta-feira são oferecidas oficinas de leitura e escrita, na quinta e sábado capoeira educativa. Mais de 50 crianças são atendidas e recebem auxilio para fazer as tarefas da escola e 60 jovens e adultos, também acompanhados pela professora.
“O que levo desses alunos que já passaram por aqui é a gratidão e hoje dois dos que já passaram por aqui voltaram e fazem o mesmo trabalho, são meus braços direitos e trabalham de voluntários fazendo manutenção no prédio e na construção desse novo prédio”.
Mesmo com toda esforço de Fátima o Projeto Socioeducativo Harmonia e Fruto, precisa de doações para manter-se funcionando. Quem quiser conhecer ou oferecer apoio, pode entrar em contato pelo telefone (67)9 8135-4538. Ou se preferir ir até a sede, o endereço fica na rua; Purus esquina a travessa Ituxi Nº 49, no Jardim Colúmbia.
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