Boulos foi entrevistado no programa 'Roda Viva', da TV Cultura Foto: Reprodução/TV Cultura

Boulos no Roda Viva: ‘Essa eleição é uma encruzilhada entre democracia e barbárie’

Um dia após ser eleito deputado federal em São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL) foi recebido no programa Roda Viva, da TV Cultura, apresentado por Vera Magalhães, na noite desta segunda-feira (3). O político agradeceu os votos que recebeu de seus apoiadores e afirmou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) continuará com sua equipe nas ruas, fortalecendo sua campanha.

Com 4,22% dos votos, o ativista foi o candidato mais bem votado para o cargo no Estado, superando Eduardo Bolsonaro e Carla Zambelli, os preferidos do PL. No total, Boulos conquistou mais de um milhão de votos válidos (1.001.453). Na sequência, apareceu Carla Zambelli, com 946.222 votos (3,99%), e Eduardo Bolsonaro, conquistando 741.684 votos (3,12%).

Inicialmente, Boulos lamentou que o resultado da eleição para a Presidência da República não tenha sido definido no primeiro turno. Ele pediu que os apoiadores de Lula mantenham a esperança e destacou que o presidente teve seis milhões de votos a mais que o presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL).

“Entendo perfeitamente aquelas pessoas que dormiram essa noite com o nó na garganta porque existia um expectativa que as eleições poderiam ser decididas no primeiro turno. Mas acho que temos que olhar a realidade a partir dos fatos. O Lula teve seis milhões de votos a mais que Bolsonaro. O Bolsonaro, pelas indicações de rejeição, tá muito mais próximo de seu teto do que Lula. Ao que tudo indica, vamos ter uma declaração de apoio da Tebet ao Lula, do Ciro Gomes ainda incerto, mas do PDT muito provavelmente. A tendência é que esses eleitores que votaram em uma terceira via seja muito mais de votar em Lula, do que em Bolsonaro”, opinou.

O candidato também afirmou que acredita que a tática da campanha de Bolsonaro será de tentar intimidar Lula. “Nós temos que ter em mente que a tática do bolsonarismo sempre foi de intimidação, de nos deixar com medo. E é isso que não podemos fazer, ficar com medo. Vamos estar nas ruas e fazer nosso papel para virar voto”, disse.

Boulos disse, ainda, que não acredita que todos os eleitores de Bolsonaro compartilhem dos mesmos pensamentos negacionistas e conservadores do presidente. “Eu não acho que nós temos 50 milhões de fascistas no Brasil, de negacionistas. O Bolsonaro tem seguidores fiéis, que defendem tortura, ditadura, mas nem de longe são 50 milhões [número aproximado de votos do presidente neste domingo]”, colocou o político.

O ativista afirmou que a polarização política no País expressa o sentimento de uma parte da população brasileira, que não são os mais pobres, de uma posição anti-PT e anti-programas sociais. “Eu acredito que mais do que bolsonarista não responder pesquisa, embora isso exista, também houve uma antecipação de um voto útil da direita. As pessoas que votaram em uma terceria via e tem mais forte um lado anti-pestista acho que já migraram seus votos no primeiro turno, mas os que têm o lado anti-bolsonarista mais forte devem migrar nesse segundo turno”, relatou.

‘Encruzilhada entre democracia e bárbarie’
O político também defendeu que Bolsonaro foi eleito em 2018 sem apresentar propostas, diferente de Lula. “O que está em jogo nessa eleição não são dois partidos, é um encruzilhada entre democracia e bárbarie. É a eleição mais importante desde o fim da ditadura no Brasil. […] E o Lula teve seis milhões de votos a mais, quem tem que estar desesperado é o Bolsonaro. É o lado de lá e não o de cá. E o Bolsonaro não está só desesperado de perder a eleição, mas que não vai ter mais sigilo de cem anos, não vai mais poder trocar delegado, ele pode acabar na cadeia”, afirmou.

Boulos também afirmou que acredita que Fernando Haddad (PT) tem condições de ganhar em São Paulo, devido ao eleitorado que ainda pode migrar para o candidato. “É impressionante o Tarcísio ter a votação que teve, porque o cara se você jogar em São Paulo, não sabe chegar nem na Praça da Sé, não sabe nem onde vota”, disse.

Já sobre apoiadores de Bolsonaro eleitos nestas eleições, ele afirma que em nenhum momento a campanha de Lula subestimou a eleição ou a tratou como “jogo ganho”. “A única vez que a esquerda subestimou o Bolsonaro foi em 2018, e ele foi eleito presidente. Não vamos fazer isso de novo. Mas também temos que reconhecer o copo cheio”, disse ele, citando como vitória a eleição de candidatas transexuais e indígenas.

Participaram da bancada de entrevistadores do programa Roda Viva Alberto Bombig, colunista do UOL, Maria Cristina Fernandes, colunista do Valor Econômico e comentarista da CBN, Ricardo Galhardo, analista político da Agência Brasília Alta Frequência e colaborador do Intercept Brasil, a repórter da Folha de S. Paulo Tayguara Ribeiro, e Bela Megale, colunista do Jornal O Globo e comentarista da Rádio CBN.

Quem é Guilherme Boulos
Guilherme Boulos tem 40 anos, nasceu em São Paulo e vive no bairro do Campo Limpo, periferia da zona sul. Coordenador-nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), agora foi eleito deputado federal pelo PSOL em São Paulo e é coordenador da campanha do ex-presidente Lula à Presidência em São Paulo.

Boulos é graduado em filosofia e mestre em psiquiatria pela Universidade de São Paulo (USP). Foi professor da rede pública estadual e hoje leciona na Escola Kope.

O político também já foi candidato à Presidência da República em 2018 e à Prefeitura de São Paulo em 2020 – quando recebeu mais de 2,1 milhões de votos. fonte terra