Cheque de R$ 6.168 pode custa mandato de prefeito e defesa chama até ministra para depor

Um simples cheque no valor de R$ 6.168 pode custar o mandato do prefeito Arlei Silva Barbosa (MDB), de Nova Alvorada do Sul, a 100 quilômetros de Campo Grande. A Câmara Municipal criou Comissão Processante. A situação é tão surreal, que até a ministra da Agricultura, Abastecimento e Pecuária, Tereza Cristina, deve ser convocada para depor como testemunha de defesa.

A estratégia da defesa de Barbosa é comandada pelos advogados Paulo Loureiro Phibois e André Puccinelli Júnior. Este último é filho do presidente regional do MDB e ex-governador André Puccinelli e chegou a ficar preso por cinco meses na Operação Lama Asfáltica.

A investigação só foi aberta pela insistência do empresário Francelino Ruis Machado. Em 17 de agosto de 2017, um amigo e funcionário da prefeitura, Marcelo Lino, pediu para ele trocar o cheque no Banco do Brasil. Ao chegar na agência, o pintor foi informado de que a folha deveria ser nominal.

Desconfiado, ele tirou uma foto do cheque sem o destinatário e voltou à prefeitura. O funcionário colocou o nome do empresário e insistiu no favor. Ele trocou o cheque e deu o dinheiro para o amigo.

Só que desconfiado da situação, com tantas denúncias de corrupção propagadas diariamente pelos meios de comunicação, o empresário decidiu procurar o Ministério Público e pediu a investigação da história.

Em abril deste ano, revoltado com a falta de desfecho da história, o empresário levou cópia gigante do cheque para a principal avenida de Nova Alvorada e cobrou apuração. O protesto gerou buchicho sem precedentes e os vereadores foram provocados a se manifestar.

Por um placar apertado, por 6 a 5, a Câmara Municipal aprovou a criação da Comissão Especial Processante, formada pelos vereadores Nélio Dias Justin (PDT), Renilson César da Silva (MDB) e Edir Alves Mesquita (PSD), conforme o jornal Correio MS.

A comissão tem 90 dias para apresentar o relatório. Eventual abertura de cassação do mandato do prefeito precisa ter o aval de dois terços dos vereadores.

A defesa do prefeito convocou como testemunhas a ministra Tereza Cristina e o deputado estadual Renato Câmara (MDB). Ambos estranharam a convocação, já que não fazem ideia de como ajudar o prefeito a explicar a folha de cheque emitida em agosto de 2017.

Em um país civilizado, Francelino Machado seria tratado como herói, afinal de contas, como cidadão, ele está correto em desconfiar do cheque de R$ 6.168. O empresário garante que não prestou serviço ao município.

Em Mato Grosso do Sul, onde o ex-governador é alvo de investigação pelo suposto desvio de R$ 432 milhões e o atual governador, Reinaldo Azambuja (PSDB), conforme a Operação Vostok, é acusado de receber R$ 67,7 milhões em propina da JBS, o valor pode ser considerado irrisório.

O Jacaré tentou conversar com o prefeito sobre a história na sexta-feira (21), mas ele alegou que a comunicação estava ruim e prometeu retornar a ligação mais tarde. Até o momento não houve retorno do emedebista nem do advogado.

Ao Campo Grande News, Arlei minimizou a história. “É a campanha eleitoral chegando. Investigamos o caso na prefeitura e tudo foi feito dentro da lei. O cheque foi emitido para pagar pelo serviço prestado por uma empresa. Se ocorreu alguma coisa na hora de descontar o cheque foi lá fora, não aqui na prefeitura”, afirmou.

Por meio de ofício ao Ministério Público, o prefeito disse que o cheque pagou a instalação de 24 pontos de rede de informática e roteador no prédio da Assistência Social.

A divisão dos vereadores mostra o desgaste dos atuais prefeitos com a falta de recursos para realizar obras. Arlei Barbosa está no terceiro mandato como prefeito. Ele voltou após não dois  mandatos pelo PT e um hiato de quatro anos, após não conseguir fazer o sucessor.

Outro escândalo foi investigado pelo Ministério Público Federal, que levou ao bloqueio dos bens do atual prefeito e do antecessor, Juvenal de Assunção Neto (PSDB). Eles são acusados de superfaturar a compra de farinha de trigo com o dinheiro da merenda escolar.

Apesar de a história ser bem mais grave, não houve investigação por parte da Câmara Municipal para apurar o escândalo da farinha. fonte o jacaré