Paz é inevitável, o próximo caminho da humanidade
“Não temos outra saída. Já se tentou-se de tudo, menos uma paz mundial verdadeira, fundada em uma consciência universal única. É chegada a hora da eliminação de todas as fronteira, barreiras e muros nacionalistas, raciais, sectários – tudo de perverso que só nos levou a guerras e sofrimentos. É certamente o próximo passo da humanidade e já se percebem alguns indícios, sinais e instrumentos práticos”. A observação é do médico Farhad Shayani, fundador e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos pela Paz.
Shayani é médico ortopedista e fisiatra, graduado e Mestre pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia e de Fisiatria pela Associação Medica Brasileira e da American Association of orthopedic medicine; Visiting Professor em Northwick Park, Londres, Heidelberg na Alemanha, Cochain e Lariboisier em Paris, Jefferson Memorial, Florida Estados Unidos. Clinicas em Minas Gerais e Rio de Janeiro. Nascido em Teerã, capital do Irã e há 62 anos no Brasil, casado com mineira de Belo Horizonte e dois filhos brasileiros.
Estudioso da cultura brasileira e iraniana e autor de estudos de correlação entre a poesia e tradições dos dois países, especialmente Manuel Bandeira e poetas persas. Co-autor de diversos livros em áreas da medicina, ciências e sobre a paz mundial. Fundador e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos pela Paz, fundada em agosto de 1986 em Porto Alegre, Organização sem fins lucrativos e com estatutos e características próprias. Ele é membro da Comunidade Bahá´í do Brasil.
Neste sábado, Dr. Farhad Shayani estará concedendo entrevista ao Programa “A Hora da Verdade”, do jornalista Osvaldo Duarte, às 11h deste sábado, pela Rádio Grande FM.
Confira a entrevista
Num mundo onde crescem os conflitos de toda ordem e a selvageria entre os povos, a paz ainda é possível?
Não temos outra saída. Já se tentou-se de tudo, menos uma paz mundial verdadeira, fundada em uma consciência universal única. É chegada a hora da eliminação de todas as fronteira, barreiras e muros nacionalistas, raciais, sectários – tudo de perverso que só nos levou a guerras e sofrimentos. É certamente o próximo passo da humanidade e já se percebem alguns indícios, sinais e instrumentos práticos.
Como lutar contra os interesses socioeconômicos e políticos-partidários? Há esperança para a humanidade? Quais os caminhos?
Os interesses econômicos e de poder são fictícios e ilusórios. Para que serviu o poder político dos poderosos? Quais das teorias econômicas no último século trouxeram paz e prosperidade e união para humanidade? Temos um estudo de cálculo econômico realizado na nossa Sociedade Brasileira de Médicos pela Paz que mostra, numericamente o quanto as corridas armamentistas e gastos bélicos, (algo hoje em torno de US$ 30 trilhões de dólares anuais) poderia gerar de extinção da miséria, cura de doenças transmissíveis, cura de câncer e criação de cinturões agrícolas em torno das cidades pobres e extinção da fome no mundo. Há muita esperança e os caminhos nunca foram tão claros e promissores.
O que levou o senhor, médico de formação, a se interessar pela cultura de paz? Como se entrelaça à saúde?
É uma boa pergunta! Na verdade sempre me interessei pelo tema pois sou Bahá’í e desde menino busco um mundo unido e em paz. Mas, especificamente em 1986, já médico com algum êxito profissional, mas sempre insatisfeito em realmente trazer algum proveito e serviço à humanidade, foi ai que conheci uma entidade mundial fundada por dois médicos cardiologistas: um russo e outro americano. O que diziam era muito simples: precisamos alertar a humanidade que em caso de uma guerra nuclear não contem com médicos, enfermeiros, hospitais, etc, pois tudo terá sido destruído. Era uma mensagem poderosa e os dois, um deles o Professor Dr Bernard Lowen, que o conheci pessoalmente, vieram a ser agraciados com o Nobel da Paz. Nesta época, com o apoio de outros 200 médicos, fundamos a Sociedade Brasileira de Médicos pela Paz sem nenhum vínculo ou afiliação nem com a entidade anterior ou com o Médicos Sem Fronteiras, que também viria a ganhar o Nobel.
Qual é o objetivo e atuação do Sociedade Brasileira de Médicos pela Paz? Isso pode inspirar profissionais de todas as áreas a atuarem como facilitadores para uma sociedade justa e equitativa
Desde o inicio tivemos objetivos, propósitos e formas de atuação diferentes. Não somos uma entidade assistencial e nem de atendimento de doentes em áreas de guerra e conflitos, por mais que respeitemos e admiremos outras organizações que fazem isto, nem angariamos fundos e nem contribuições. Em resumo, não cremos em práticas paliativas e assistenciais para trazer a Paz ao mundo. Trabalhamos com instituições em todo o Brasil que realizam um trabalho preventivo e educativo de programas sistemáticos de trazer valores, virtudes, consciência e percepções para um mundo unido, justo e em paz. Apoiamos programas de empoderamento de crianças, pré jovens (9 a 12 anos críticos na formação), jovens e adolescentes e mesmo adultos e famílias. Há materiais bem estruturados, ministrados sempre por voluntários, e hoje milhares de outros profissionais estão sendo inspirados s serem tutores e facilitadores nestes programas.
A maioria das pessoas está apavorada e descrente face à escalada da violência e a miséria. Quais os caminhos? O que sugere?
Temos realizado palestras e dado cursos, sempre em colaboração com pessoas com ideais afins como os Bahá’ís de Dourados. Agora, recentemente, realizamos um grande treinamento no Rio de Janeiro e outro em escolas públicas de Belo Horizonte, a convite dos Bahá’ís locais.
Fale um pouco sobre os livros que o senhor publicou. Quais são os teores e a quem se dirigem? Tem versão online e onde podem ser encontrados?
Acreditamos muito em contato pessoal, olho no olho, coração a coração. Queremos todas as almas e não apenas mais um fenômeno de mídia social. Queremos voltar a ter comunidades que cuidem das nossas crianças e jovens, tão abandonados. Queremos construir comunidades com novos valores e virtudes e novas práticas capazes de influenciar poderosamente a sociedade ao seu redor.
O senhor mencionou ‘construção de comunidades’. Do que se trata e como sair do estágio atual para isso? Pode citar resultados concretos?
Construção de Comunidades é para mim a ação mais transformadora hoje no mundo. Começamos com atividades para crianças, jovens e famílias e depois mostramos como a comunidade pode multiplicar estes modelos e como a comunidade pode criar uma cultura de não violência, paz e unidade. Os resultados práticos tem sido fantásticos. Milhares de localidades estão se levantando. Milhares de voluntários estão pedindo para serem treinados. Milhares de pais que vêm a transformação dos seus filhos entram em fila de espera para terem seus filhos envolvidos. Milhares de parentes desiludidos pelas drogas, vícios e violência dos filhos, junto com escolas e professores que sofreram violência, têm solicitado os programas de construção de comunidades. Neste sentido, os Bahá’ís em todas as cidades do Brasil e aqui em Dourados têm sido cruciais na sua experiência e participação ativa.
Pelo que entendemos, a mudança parte de dentro para fora, ou seja, muda o ser humano para mudar o mundo? Qual é o mecanismo?
Sem dúvida, é de dentro para fora, mas não é apenas uma prática individualista. Não é uma psicoterapia. Há um poderoso mecanismo multiplicador no programa, bem como novas instituições que acompanham na prática e apóiam concretamente os grupos.
Em nível local, nacional e mundial, como anda este movimento?
Este tem sido um movimento de toda a sociedade brasileira e mundial. Estivemos agora em Canoas, na Grande Porto Alegre e vimos o êxito enorme destes programas, por exemplo, em Mogi Mirim (SP) e mesmo no nosso centro oeste; no mundo, desde Congo, Toronto no Canadá, até Colômbia, Vietnam, Cambodia e em todos os cantos do planeta. Acredita-se que hoje mais de 800 mil voluntários capacitados e treinados estão ativamente multiplicando estas ações.
Considerações finais
Gostaria muito de convidar a população de Dourados, que é a terceira vez que tenho a felicidade de visitar, busquem conhecer mais este trabalho dos Bahá’ís de Dourados. Entrem com contato telefônico, por email e busquem saber como podem ser capacitados como voluntários tanto para crianças, pré jovens, adolescentes como adultos e na construção de comunidades.
Fonte: DouradosAgora.
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